De
Curitiba à Venezuela de Fusca
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02/09/00
Bagagem
no carro. A reportagem chega para a última entrevista. Saída
às 9:15 hs da casa do Alceu no bairro do Boqueirão
em Curitiba com destino próximo à Catalão em
Goiás. Chegamos em Intubiara (GO). Distância: 1050
Km.
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03/09/00
Rodamos hoje mais 1050 Km. Chegamos em Palmas (TO)
onde pernoitaremos. Tudo correndo de forma perfeita até aqui.
Estamos fazendo uma quilometragem acima do planejado para fazermos
a maior parte do percurso juntos já que o Marcelo dispõe
de menos tempo e talvez tenha que interromper a viagem e voltar
antes.
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04/09/00
Final de tarde: chegamos em Imperatriz, na divisa
de Tocantins com Goiás. Distância percorrida no dia:
644 Km. Fomos desaconselhados por muitas pessoas a fazer o percurso
originalmente planejado pela estrada de terra no meio da mata. Moradores
da região relataram casos de assaltos naquele trecho. Não
sabemos se é exagero, mas afirmaram que nos assaltos levam
tudo, desde roupas até sapatos.
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05/09/00
Mudamos nosso roteiro, por
via das dúvidas, e em vez de ir para Santarém (PA)
pela estrada no meio da mata, seguimos em direção
à Belém (PA) (veja o mapa).
A estrada estava péssima, com buracos grandes que eram
impossíveis de se desviar. Uma roda do nosso Fusca entortou
bastante, e com certeza um carro com rodas de liga leve não
conseguiria chegar. No caminho um carro sem qualquer identificação
e com vidros escuros começou a fazer sinal para a gente
parar. Falei para o Marcelo pisar fundo pois achava que era um
assalto. Corremos tudo que dava naquela estrada cheia de buracos
até encontrar um caminhão. Diminuimos e passamos
a andar na frente do caminhão e sempre perto deste. O carro
de vidros escuros nos alcançou e nos forçou a parar:
eram policiais! Queriam saber do que nós estávamos
"fugindo" e disseram não acreditar que nós
realmente pensamos que se tratava de um assalto, apesar do carro
dos policiais não ter qualquer identificação.
Revistaram o Fusca até por baixo. Queriam aplicar uma multa
para o Marcelo por excesso de velocidade, mas acabaram nos liberando.
Chegamos em Belém no fim de tarde. Distância percorrida:
948 Km. De Curitiba até aqui foram 3193 Km.
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06/09/00
O Fusca se comportou de forma excelente, mostrando
ser um carro muito resistente e capaz de enfrentar terrenos bem
ruins. Nosso único pequeno reparo foi o fio da bobina que
escapou. Recebemos diversas propostas para vendê-lo inclusive
por valores acima da média do mercado, pois segundo disseram,
é difícil encontrar na região um carro usado
com mais de 2 ou 3 anos em bom estado. Pegamos a balsa às
17 hs. Pagamos duas passagens, uma para o Fusca e outra para nós,
pois o carro foi em uma balsa separada, exclusiva para veículos,
onde é proibido viajar pessoas. Nosso barco tem 3 "andares"
e nossa cabine é uma suíte bem confortável.
Vamos ter muito tempo para colocar a leitura em dia, pois nossa
viagem de barco só termina segunda-feira (11/09/00). O Fusca
vai chegar antes já que o barco de passageiros vai parando
nas cidades e vilas ao longo do rio.
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11/09/00
Apesar do barco ter música ao vivo e a paisagem
ser fantástica, para nós que gostamos de "por
o pé na estrada" é muito cansativa. Nossa cabine
é estreita como normalmente as cabines em navio são.
Aproveitamos para dormir bastante. Eu e o Marcelo estranhamos
a comida e acabamos passando mal na viagem. Os outros passageiros,
a maioria da região, são acostumados com o tempero
forte. Chegamos
em Manaus somente às 23 hs. O Fusca ainda não chegou.
Descobrimos também que foi uma sorte termos mudado nosso
roteiro inicial com destino à Santarém, pois pode-se
levar até 20 dias aguardando a balsa para transporte de
carros. Em Santarém, a freqüência maior é
apenas de barcos de passageiros.
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12/09/00
O Fusca chegou por volta das 15 hs, furando
nossa previsão de que os carros chegariam antes do
que os passageiros. Aproveitamos a manhã para conhecer
um pouco mais a cidade de Manaus.
Partimos em direção a Boa Vista (Roraima) para
tentar fazer o máximo de quilometragem possível.
Depois de rodar quase 100 km descobrimos que tinhamos pego
o caminho errado e tivemos que voltar. A sinalização
é praticamente inexistente. Chegamos à cidade
de Presidente Figueiredo e nos hospedamos em um grande hotel
ao lado da mata. Aparentemente éramos os únicos
hóspedes no momento. Distância percorrida 118
Km.
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13/09/00
Saímos cedo com destino à
Boa Vista (RR). Os efeitos da comida do barco ainda se
fazem sentir. Estamos tomando bastante água de
côco para nos reidratar. Em um determinado momento
a minha pressão baixa e praticamente desmaio em
cima da caixa de ferramentas. A dor foi intensa. O Marcelo
me socorreu e parece que fraturei uma costela. Fomos até
a farmácia e fizemos um curativo, onde também
tomei um analgésico. Distância percorrida
hoje foi de 526 Km.
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14/09/00
Partimos com destino à Caracas,
na Venezuela. Estou me sentindo meio fraco por isso quem
vai dirigir o tempo todo hoje vai ser o Marcelo. Até
depois de amanhã no máximo o Marcelo vai
ter que estar de volta em Curitiba e provavelmente deve
pegar um avião em Caracas. Estou cogitando a hipótese
de deixar o Fusca e voltar também de avião
para Curitiba, pois viajar sozinho nestas condições
não vai ser fácil.
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15/09/00
Passamos a cidade de Sta. Helena e San Francisco
na Venezuela. Um pequeno problema no Fusca nos obrigou a parar
em San Inácio a 140 Km da fronteira com o Brasil. Como
o Marcelo já teria que voltar decidi não seguir
adiante sozinho e iniciamos a nossa viagem de volta para Manaus.
- 18/09/00
Estamos em Manaus onde o Marcelo vai pegar o avião
para Curitiba. Eu vou ter que esperar até amanhã para
embarcar o Fusca pois no domingo não tem barco. Depois que
o Fusca desembarcar em Belém vou seguir viagem de 3 dias até
Curitiba.
- 24/09/00
Saí de Belém à tarde depois de
esperar a chegada do Fusca. Sozinho a viagem é bem mais complicada,
e sem ter com quem conversar as horas são mais longas. Decidi
voltar pela estrada Belém - Marabá. As pontes neste
trecho são feitas de chapas de aço rebitadas apoiadas
sobre as vigas e travessas. Apenas 3 das 26 pontes estavam em ordem.
Numa delas uma terrível surpresa: estavam faltando diversas
chapas e o buraco era do tamanho de uma cama de solteiro. Joguei o
Fusca na contramão e rezei para não bater na mureta.
Sorte que não vinha nenhum carro no sentido contrário.
Do outro lado da ponte estavam um Toyota Bandeirante sem o eixo e
um Fiat Elba sem parachoque e faróis. As outras pontes pareciam
um tabuleiro de xadrêz: tinha-se que fazer um zig-zag para cruzá-las.
- 25/09/00
Estou em um hotel em Miracema do Tocantins depois de um trecho bem
cansativo da viagem. De manhã cedo sou acordado com pessoas
batendo na porta. "É um assalto!!! Abram a porta!"
gritaram. Imediatamente minha reação foi deixar pouco
mais de R$ 200,00 no criado mudo e esconder o resto do dinheiro dentro
do cardápio. Analisei a possibilidade de sair pela janela,
mas no 4º andar isso era impossível. Pouco depois faz-se
um silêncio e quando olho pela janela vejo saindo duas Silverado
que estavam estacionadas uma de cada lado do Fusca. Pensei que fossem
os ladrões que estivessem levando as camionetes de alguns hóspedes,
mas quando desci na portaria descobri que tratava-se de uma brincadeira
de mau gosto de rapazes que queriam passar trote nos amigos que estavam
hospedados no hotel. Soube depois que um senhor passou mal e vários
hóspedes deixaram o hotel.
- 26/09/00
Estou na casa de um velho amigo em Goiânia. Daqui parto direto
para Curitiba, numa viagem de 2 dias. A saudade da família
é grande e não vejo a hora de chegar.
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