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De Curitiba à Venezuela de Fusca
A viagem
Já o médico Marcelo Gipiela conta que é "marinheiro (ou fusqueiro) de primeira viagem". "O Alceu me convidou para ir com ele. Antes de decidir pensei durante um mês e há quatro meses estamos cuidando dos preparativos". Mas a novidade não assusta Marcelo, que afirma estar apenas ansioso. Para não cansar muito, eles se revezarão no volante a cada 200 quilômetros. Eles não estão levando alimentação, comerão em bares e restaurantes. "Em locais que nós sabemos que não há comércio, compraremos a comida antes, que será armazenada em uma geladeira de isopor", explica Alceu. À noite, está prevista a parada em hotéis. Uma das dificuldades que os dois viajantes irão encontrar pelo trajeto é o trecho de 1.000 quilômetros da estrada Transamazônica entre Marabá e Santarém (PA). "A via é de terra e fica cercada de mata. O maior perigo são os índios. Por isso, estamos levando o passaporte: algumas garrafas de pinga", brinca Alceu. Outro trecho que está deixando os viajantes apreensivos são os percursos de balsa, onde podem passar mais de seis dias da viagem (entre a ida e volta). "Estou levando alguns livros, revistas e comprimidos para conseguir passar este trecho", confessa Alceu. Eles ainda não sabem se, durante o trajeto na balsa, irão dormir em redes, barraca ou no carro. Marcelo, no entanto, não vai poder acompanhar a viagem inteira, voltando, de onde estiver, no décimo oitavo dia da aventura. "Tenho que retornar para trabalhar. Por isso, quando acabar meu prazo, pego um avião para Curitiba". A volta antecipada de Marcelo pode mudar os planos de Alceu. "Como dirigir sozinho é muito cansativo, talvez mude a rota da volta. Tudo vai depender do meu estado de espírito e cansaço". Alceu conta que no início a idéia era a de fazer outro percurso de volta, que seria pela Colômbia, Equador, Peru e Bolívia, mas a rota teve de ser mudada por causa das guerrilhas que vêm acontecendo na Colômbia. Mesmo fazendo uma longa rota, por locais de difícil acesso, os viajantes escolheram um Fusca, que não é ser considerado um dos carros mais confortáveis e potentes da atualidade. Mas a opção tem muitas justificativas, como mecânica simples, confiança no veículo, não chamar atenção de ladrões e, principalmente, manter o lema de aventura. Para Alceu, a viagem tem duas aventuras. "Primeiro, os locais que iremos passar e, depois, por estarmos de Fusca". Segundo ele, a viagem de carro para Venezuela gera surpresa entre as pessoas, mas a escolha de um Fusca para realizar a aventura cria polêmica. "Evito falar que é um Fusca porque todos me chamam de louco", afirma Marcelo. Alceu acrescenta que a facilidade para arrumar o fusca em casos imprevistos também contribuiu para a escolha. "Nesses locais, se precisar de algum socorro para o veículo, os moradores cobram os olhos da cara. Tudo depende da situação, quanto maior o apuro, mais caro cobram". Segundo Alceu, o carro também não chama a atenção dos ladrões. "Se você aparece com um carro muito sofisticado, corre o risco de ser assaltado". Ele conta que cogitou até fazer no carro alguns remendos com massa de recuperação de lataria, para o Fusca ficar com cara de velho. Outra tática para afastar os ladrões são as roupas. "Nós vamos com camisetas e bermudas velhas", diz Alceu. Os viajantes também não levarão muito dinheiro, apenas cartão do banco para sacar conforme a necessidade. "Nós também estaremos levando carteiras falsas, para enganar os ladrões". A
bagagem conta apenas com o necessário, como roupas, ferramentas, materiais
de primeiros socorros, livros, barraca, mapas e guias rodoviários, presentes
para os índios e documentos pessoais. |