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Ferrari construiu exclusividade / Lamborghini construiu comunidade
Reportagem: Camila Ferreira
Advogado e empresário Faustino Júnior visita e analisa os dois modelos de negócios propagados por cada uma das montadoras.

A história do luxo automotivo na Itália é mais do que uma disputa entre dois titãs. Ferrari e Lamborghini simbolizam dois modelos empresariais distintos que influenciaram não apenas a indústria automobilística, mas também a forma como empreendedores modernos constroem suas marcas, suas comunidades e seus legados.

Enzo Ferrari não fundou sua empresa com foco no consumidor. Seu propósito original era vencer nas pistas. Cada veículo era, antes de tudo, um subproduto da escuderia. A Ferrari tornou-se sinônimo de performance absoluta, mas também de exclusividade extrema. O cliente, nesse modelo, não é o centro da experiência. Ele é quase um convidado. A escassez é deliberada, e o prestígio vem da dificuldade de acesso. A marca cultiva um ethos aristocrático, onde tradição e excelência formam a espinha dorsal.

Já Ferruccio Lamborghini surgiu do mercado. Industrial bem-sucedido, era cliente da Ferrari e, após ter suas críticas ignoradas por Enzo Ferrari em relação ao desempenho do veículo que possuía, decidiu fundar uma marca própria — e com ela, uma nova filosofia. Seu foco estava no prazer de dirigir, na estética ousada e, sobretudo, no consumidor. A Lamborghini não apenas democratizou o luxo em um segmento específico, como redefiniu o conceito de produto premium: não era sobre tradição, mas sobre provocação.

Para Faustino Junior, advogado, investidor e fundador da American Associates Alliance (AAA) e da FGMED, o modelo Lamborghini é o que melhor traduz a mentalidade do empreendedor de alto impacto. "O legado de Ferruccio me inspira porque ele ouviu o mercado, não ignorou a crítica e teve coragem de criar um movimento. Ele não quis ser apenas concorrente da Ferrari. Ele fundou uma nova ideia de luxo. Isso é empreendedorismo real", afirma.

Essa compreensão se fortaleceu ainda mais após uma imersão pessoal. Em uma mesma tarde, Faustino visitou as fábricas, museus e centros de design da Ferrari, em Maranello, e da Lamborghini, em Sant'Agata Bolognese. "Foi uma experiência emblemática. Apesar da curta distância geográfica entre as duas, a diferença de filosofia é abissal. A Ferrari preserva o mito, a reverência, o silêncio quase sagrado. Já a Lamborghini entrega energia, interação, vanguarda. É um choque de culturas corporativas", relata.

A verdade é que essa comparação só ganhou profundidade depois que Faustino já havia visitado as fábricas da Porsche, da Mercedes-Benz e da BMW na Alemanha — marcas igualmente fortes, mas que seguem estratégias distintas de posicionamento. "A Porsche, por exemplo, equilibra tradição e adaptação com maestria. Já a Mercedes opera com uma elegância institucional, e a BMW investe pesadamente em performance e inovação tecnológica. Mas nenhuma dessas visitas me impactou tanto quanto ver, no mesmo dia, os bastidores de Ferrari e Lamborghini. Foi como assistir, ao vivo, ao embate entre dois mundos."

Nos negócios de Faustino, o modelo Lamborghini se materializa com clareza. A AAA e os programas de pós-graduação da FGMED operam sob um modelo de comunidade premium, com acesso restrito, experiências transformadoras e alto valor percebido. "A proposta não é simplesmente comercializar um serviço, mas integrar pessoas a uma visão de pertencimento e transformação. Nossos alunos e associados não estão apenas consumindo algo. Eles estão entrando em um ecossistema", explica.

A Ferrari, com seu foco em herança, autoridade e escassez, representa um modelo de marca consolidada, vertical e institucional. A Lamborghini, com seu design arrojado, comunicação irreverente e foco na experiência do cliente, se alinha ao novo empreendedorismo: aquele que cresce por meio da comunidade, da diferenciação e da entrega real de valor.

"O empreendedor de hoje não precisa de uma pista para correr sozinho. Ele precisa de uma comunidade que acelere junto. É nisso que acredito. É isso que aplico. E é por isso que minha estratégia é, sem dúvida, mais Lamborghini do que Ferrari", conclui Faustino.

Em tempos de saturação de mercado, fórmulas repetidas e promessas genéricas, a inspiração no modelo Lamborghini ressurge como uma resposta contemporânea: ouvir o cliente, gerar pertencimento e construir legado. Não basta acelerar é preciso conduzir uma comunidade inteira na direção certa.

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