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Kart: pilotos vencem deficiências e são exemplos superação e inclusão no Brasileiro
Reportagem: Fernanda Gonçalves
Foto: Cláudio Reis
CBA Assessoria de Comunicação CNK
Julio Reis (que possui surdez bilateral profunda), Victor Fonseca (portador de mielite transversa) e Henrique Manhani (que também tem deficiência auditiva) mostram como o esporte pode ajudar deficient

Disputar o Campeonato Brasileiro de Kart, principal competição do país na modalidade, é um sonho para muitos pilotos. São muitas histórias de dedicação, esforços de toda a família e superação.

Mas algumas delas são muito especiais na 56ª edição do Campeonato Brasileiro de Kart, que será disputada entre os dias 6 e 18 de dezembro, no kartódromo Beto Carrero, em Penha (SC).

Julio Reis, de 35 anos, Victor Fonseca, de 37, ambos na categoria Sprinter (Sênior B), e Henrique Manhani, de 16, na categoria Graduados, estarão na disputa e, independentemente dos resultados, já são verdadeiros campeões e exemplos de como o kart pode ser uma importante ferramenta de inclusão social.

Julio, que terá 36 anos em dezembro, é filho do ex-piloto e jornalista Claudio Reis e da fotógrafa especializada em kart Cristina Trevisan Reis. Por isso, o automobilismo sempre esteve em seu "sangue".

Portador de surdez bilateral profunda - não ouve nada, desde que nasceu, nem com auxílio de aparelho para surdez –, ele ainda é autista em um grau leve. Além de nada ouvir, Julio tem dificuldades de equilíbrio por conta de falha no labirinto.

Mas esses obstáculos não impediram que o piloto, por meio de exaustivos treinos ao longo de 1999, iniciasse suas disputas no kart em 2000. Julio Reis foi mundialmente reconhecido ao competir de igual para igual com os demais competidores.

Em uma época em que ainda não se falava em inclusão social, ele teve sua inclusão entre os inscritos / fundadores do ParaKart, no Kartódromo Almancil, em Portugal, que em 2002 reuniu os primeiros pilotos paraplégicos e deficientes sensoriais em um evento de kart, a 1ª Corrida Internacional de Karting Adaptado.

O piloto competiu no kartismo nacional por 11 temporadas, até chegar à categoria Graduados A em 2010. Conquistou resultados muito expressivos: foi vice-campeão Paulista e Paranaense na categoria Novatos, Top-5 na Graduados B no Brasileiro de Kart e segundo colocado em uma das edições das 500 Milhas de Kart da Granja Viana.

A volta às disputas é motivo de grande alegria para o piloto. Com a ajuda de Claudio Reis, que traduziu a linguagem de sinais com o filho, Julio expressou suas expectativas.

"Depois de doze anos sem pilotar um kart, quero fazer um desafio pessoal para desenferrujar um pouco, agora como piloto da categoria Sênior B", contou.

"Apesar das dificuldades naturais da longa parada e falta de treinos, eu pretendo ir bem nas corridas e conquistar um bom resultado, para ser novamente exemplo e provar que não existem limites para serem superados por quem tem deficiências. Tudo pode ser superado e as deficiências se tornarem 'eficiências'. Talentos, podem ser descobertos e lapidados onde se menos espera", continuou.

"Quero agradecer o fundamental apoio da Kart Mini, Collet Blindagens, Paragon Ergonomics, Artmix, ULV, Uncle Coletta, Beca Design, Planet Kart e da ótima equipe Forcolin Racing, comandada pelo experiente preparador paulista José Ricardo Forcolin, ex-piloto de automobilismo, que vai cuidar com esmero dos acertos tanto do kart, quanto de mim", finalizou Julio.

"Os médicos disseram que eu não iria mais andar" Assim como Julio, Victor Fonseca também tem uma grande história de superação. O mineiro descobriu em 2015 que é portador de mielite transversa, uma doença neuroimune rara da medula espinhal. De um dia para o outro, ele perdeu o movimento das pernas e chegou a ouvir dos médicos que nunca mais iria andar. Com muito esforço e dedicação, hoje ele já consegue andar pequenas distâncias com uma muleta especial. Para distância maiores, ainda utiliza a cadeira de rodas.

A paixão pela velocidade também teve a influência do pai, que sempre correu de kart. Aos 7 anos, ganhou um kart de Natal e aos 8 passou a competir. Foi até a categoria Júnior, conquistando títulos e vitórias, mas precisou parar em virtude da falta de patrocínio.

No ano passado, Victor decidiu procurar um esporte que pudesse disputar com sua deficiência. Bastaram algumas voltas no kart para a paixão renascer com força total. Com algumas adaptações – ele coloca alguns elásticos na perna, que o ajudam a frear -, ele voltou a disputar provas e virou chefe de equipe e coach dos pilotos da Center Kart.

"Infelizmente, temos poucos deficientes andando de kart. Mas, acho que quando as pessoas veem que é possível, isso pode motivá-las a andar não só de kart, mas praticar outros esportes também", declarou o piloto, que conta com o apoio de Black Aviação, Agv Projetos, Faculdade Arnaldo e Casa Vick.

Victor nunca correu no Beto Carrero, mas está ansioso. "As expectativas são muito boas. Estou andando bem e espero me adaptar o mais rápido possível ao kart 2 tempos, pois eu vinha andando de F4 e quero disputar de igual para igual com os pilotos sem deficiência", concluiu Victor, que sempre foi bastante competitivo.

"Dentro do kart me sinto 100% saudável"

Henrique também começou cedo no kart, aos 10 anos, correndo na Cadete. Logo ingressou na categoria 2 tempos com o preparador Sidnei Carvalho, da SC Kart e Competições, e foi o piloto mais jovem a ser campeão da Copa Litoral de Kart, repetindo o feito no ano seguinte.

Estreou nas competições nacionais na categoria Júnior, disputando o Campeonato Brasileiro de 2018. Foi o 12º colocado entre os 28 competidores. Neste mesmo ano, foi vice-campeão da Copa Aldeia, mesmo correndo metade das etapas do ano.

Em 2019, foi terceiro colocado no Paulista Light e sétimo no Brasileiro. No ano passado, foi campeão da Copa São Paulo e vice-campeão do Paulista Light. Em 2021, ingressou na categoria Graduados e está 100% focado na disputa do Brasileiro.

"Tenho deficiência auditiva, mas sempre usei minha 'desvantagem' de forma eficiente. A inclusão no esporte foi excepcional e canalizei o efeito negativo, que poderia ter, para resultados expressivos. Dentro do kart, me sinto 100% saudável. Tenho 100% da minha audição prejudicada, mas isso nunca me atrapalhou", comentou o piloto, que adquiriu a deficiência ao nascer prematuro e ter algumas complicações após o parto.

Com a ajuda de um aparelho auditivo, ele consegue ouvir um pouco e, graças ao esforço e estímulo dos pais e ao trabalho com fonoaudiólogos, aprendeu a falar e também consegue realizar leitura labial para se comunicar com as pessoas.

"Eu era um menino mais introvertido e o kart me ajudou a ser mais ativo, feliz e melhorou minha capacidade para se relacionar com as pessoas. Espero que o esporte possa ajudar mais pilotos como eu", completou Henrique, que conta com o apoio de Pailler Racing, Erick Lutum e LBRC.

Julio, Victor e Henrique estarão em ação no grupo 2 do Campeonato Brasileiro de Kart, que começará a ser disputado no dia 13 de dezembro na pista catarinense.

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