Garagem do Bellote-

Cavalo Selvagem

Texto e fotos: Renato Bellote Gomes

Você acredita em coincidências? E na lei da atração? Pois é. Essas coisas realmente existem. E vou explicar o motivo. Estava fotografando um outro carro quando avistei o Mustang 1967 das fotos descendo a rua. Há algum tempo eu havia conversado com o dono da máquina na tentativa de marcarmos uma data ideal no calendário para um encontro.

O advogado Marcos Fuchs abaixou o vidro e perguntou: "Você não é o Renato, é?". Incrível mesmo. Foi só confirmar com um gesto de cabeça e, em alguns minutos, já estávamos trocando figurinhas sobre o clássico e pensando no melhor ângulo.

Interessado por motores V8 desde a adolescência, o colecionador me contou que alguns exemplares - de marcas diferentes - já passaram pelas suas mãos. O primeiro até rendeu uma história curiosa. "Comecei com um Dart de Luxo duas portas azul. Comprei o veículo na feira do automóvel, em 1981, e o vendedor pediu carona até o Playcenter, aonde iria com a família gastar o dinheiro da venda", relembra.

Mas a paixão avassaladora foi mesmo pelo Ford, há mais de 20 anos atrás. "Ele foi adquirido em 1985, em um posto de gasolina na Avenida Sumaré. Na época, salvo engano, custou U$ 1.000,00", exclama. E tem mais. "Foi amor à primeira vista. Passei no local, vi o carro e me apaixonei".

Só para ilustrar, o Mustang é uma raça de cavalo que vive no oeste dos Estados Unidos. Por sua resistência e força logo se tornou o preferido dos índios. O exército também utilizou seus serviços por um bom tempo. Na década de 70, o congresso norte-americano transformou-o no símbolo vivo do pioneirismo e do progresso do país. Mas o similar automotivo já estava mais do que consolidado.

Voltando ao "nosso" esportivo, o bólido chama a atenção de longe. E foi justamente a partir de 1967 que ele cresceu e ficou com uma aparência mais robusta. Nessa época os muscle cars já dominavam as ruas e esbanjavam todo seu - excesso - de potência e torque. E o melhor: custavam - muito - barato. E a gasolina também.

O exemplar do advogado tem detalhes que o tornam único. Só de bater o olho, as rodas de 15" - modelo Mangels Daytona - já deixam claro que ele não está para brincadeira. Um spoiler dianteiro e o scoop sobre o capô complementam seu estilo "bravo". Mas não fica só no visual. O propulsor 302 V8 também tem sua dose - cavalar, sem trocadilhos - de veneno. "O motor é novo, tem comando de válvulas e carburador quadrijet. O bloco foi preparado pelo Élcio, que é um mecânico fora de série, competente e de um caráter ímpar", revela. Detalhe importante: ele só "bebe" gasolina aditivada.

Histórias engraçadas? Uma vale a pena deixar registrada. O Marcos conta com bom humor: "Certa vez um vizinho mostrava o apartamento para um comprador e na hora de ver a garagem ele (comprador) só fechava negócio se o Mustang viesse junto". E finaliza: "O sonho da garotada do prédio é dar uma volta com a fera".

O veículo também passou pelo processo de restauração. Não uma, mas duas vezes. "Na primeira ficou na lata sem deixar nada. E recentemente dei um banho de tinta", revela. O interior é todo original e, apesar de ter passado por alguns tapeceiros, o dono fez questão de manter a mesma padronagem.

E por falar em interior, vamos explorar o painel. Logo de cara, um conta-giros da Auto Meter - graduado até as 10 mil rpm - encara os curiosos. Um pouco mais abaixo, o vacuômetro e, do lado esquerdo, um pequeno termômetro. Tudo para monitorar e garantir o funcionamento perfeito.

O V8 produz um som rouco em marcha lenta. Olhei rapidamente para a esquerda e li a seguinte inscrição, em uma etiqueta vermelha na porta do motorista: "Não abrir em vôo". Isso deve ser um aviso sério, hein? Melhor afivelar os cintos antes de pisar fundo.

"O único comentário ou sugestão que faço para quem está começando nesse hobby é simples. Na verdade, duas palavras: paciência e dedicação", diz o Marcos depois de um tempo. Realmente são requisitos fundamentais para quem gosta de carro antigo.

E aproveitando a deixa, vou me despedindo. O Mustangão desceu a rua e saiu ronronando pelo bairro de Pinheiros. E eu fiquei ali pensando - novamente - nas coincidências, na lei da atração e outras coisas mais. Nos vemos por aí.

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