Crônicas-

Barrichello de "alma lavada"!

Paulo Valiengo

O surgimento da Fórmula 1, causou uma revolução no conceito basico de automobilismo, se tornando um laboratório de indiscutível importância para a industria automobilística e para o consumidor final. Praticamente tudo que foi descoberto e aplicado nesta categoria, hoje faz parte do nosso automóvel do dia a dia.

Por outro lado, esta categoria teve o condão de transformar o esporte, apenas num negócio, muitas vezes sujo e de mal gosto, praticado por verdadeiros gangsters, encontrados apenas nas telas dos cinemas.

Todo ano surge uma atrapalhada, que vai aos poucos desmoralizando a categoria e consequentemente afastando o torcedor dos autódromos e das transmissões. Mas existem certos momentos, em que esquecemos todas as manobras imorais da categoria, e podemos vibrar de emoção. Foi o que aconteceu no GP da Hungria de 2010, quando da ultrapassagem de Rubens Barrichello sobre Schumacher.

Eu nunca gostei do Michael Schumacher embora sempre tenha admirado sua competência e ousadia. Mas, sinceramente não conseguia ter simpatia pelo alemão. Até que em 2005, por ocasião do tsunami que atingiu a costa da Asia, o alemão fez uma doação de 15 milhões de dólares, para as famílias atingidas pela tormenta. O governo dos Estados Unidos tinha doado apenas 5 milhões, mas depois da doação do Schumacher, liberou qualquer quantia para o socorro das vítimas. Depois desta atitude, fui nutrindo aos poucos uma admiração pelo piloto alemão. Na verdade fiquei até seu fã. Fiquei desanimado quando ele resolveu parar de correr, achei que a categoria perdeu um pouco de seu charme e glamour.

Quando ele resolveu voltar, torci bastante para que desse tudo certo e tivesse um retorno vencedor. O que não aconteceu. Não sei se o carro não está ajudando, ou se ele ainda não recuperou a forma e os reflexos.

Mas, depois do GP da Hungria, não quero mais saber do alemão, achei que ele deve estar meio maluco, ou está com uma irresponsabilidade meio senil. Atirar o carro sobre o Barrichello, naquela reta, onde deveriam estar em torno de 300 por hora, só pode ser coisa de senilidade! Não é papel de campeão.

Barrichello por sua vez, pilotando com uma vontade e categoria ímpar, talvez livre como nunca esteve em toda sua longa carreira, mostrou que tem uma coragem que o tempo não corrompeu, pelo contrário, parece que até fortaleceu. Mergulhou na reta dos boxes embaixo de Schumacher, pegando o vácuo da Mercedes, até conseguir botar do lado por dentro, sendo espremido até o muro. Foi salvo apenas pela sua coragem e ousadia, porque se tivesse aliviado um pouco o pé, certamente teria batido no muro e as consequências nós todos podemos imaginar.

Livre da tirania da Ferrari, Rubinho pode "lavar a alma" provando para o mundo inclusive para o "velho" alemão, que não está alí para tirar o pé para ninguém.

Tenho que colocar aqui neste texto, o comentário que encontrei no site portugues AutoSport, de um leitor de nome Mr. Vader, sobre a ultrapassagem de Rubinho: "Para resumir em duas frases o que me pareceu a manobra, o que vi foram dois veteranos: um, com a estante cheia de troféus, honras e títulos, alguns não merecidos, vazio de alma e sem nenhum coração! Outro, com muito menos troféus do que seu talento lhe faz jus, nenhum título, mas o coração e a bravura intactos!!! Obrigado pela emoção de domingo, Rubens! Bravíssimo!!!".

Crônicas

Página inicial