Histórias & Estórias-

Como dói!

Queridos amigos, olá! Que saudades!

Como participante nem sempre coadjuvante de mais de 20 anos de automobilismo, poucas vezes alguma história de corridas rendeu tantos risos como a que agora vou contar. Definitivamente a campeã da série "sente no chão pra rir".

Era novembro de 1985. Eu, recém completados 18 anos, ia a Rio Negro (PR) disputar o Campeonato Paranaense de Kart daquele ano. Minha situação era a seguinte: das 5 etapas me dei mal nas 2 primeiras sendo que depois disto teria que vencer as 3 últimas que faltavam para ser campeão. Venci a 3ª em Foz, a 4ª nas ruas de Londrina e íamos nós pra Rio Negro. Mas, não vou me aprofundar muito sobre a corrida, que é outra história, e sim o que nela aconteceu na sexta-feira de manhã, véspera daquela, para mim, triste corrida, porquê não acabei campeão.

Morava em Cascavel e a equipe éramos eu e meu pai, meu pai e eu. Como era a final do campeonato recrutamos alguns amigos para ir conosco. De pronto aceitaram o Sandro Terribille (Frango), o Renato Pompeu (hoje professor e colaborador da equipe Power Tech da Stock) e o Ruy Chemin (como mecânico de kart ele é ótimo). Iríamos a Rio Negro na quinta pela manhã. Todos iriam dormir em minha casa.

Era 1 hora da manhã quando o Ruy bateu nos quartos. "Pessoal , não consigo dormir , vamos sair agora". Pra que! Todo mundo era louco e em menos de 10 minutos estávamos todos nos carros. Antes porém, veio o Ruy com sua sempre "maravilhosas idéias". "Vamos abastecer os galões de kart com álcool, pois na BR (rodovia) não acharemos postos abertos. Tomaremos um Reativen (medicamento conhecido na gíria como "rebite") para não dormirmos". Xiii! Piazada, né? Vamos lá!

Viajamos. Andavamos uns 50 km e o Ruy pediu estranhamente para parar que ele estava com fome. Em cada posto pedia um copo de leite quente e um ovo. Assim foi e neste ritmo eram 5 horas da manhã e estávamos em Guarapuava (a 250 km) ainda. Mais ovo e leite. Fazia muito frio naquela manhã e quando o dia ia amanhecendo não é que o o tal do leite e ovo que o Ruy tinha comido começou a fazer efeito? Fermentou total e ninguém mais queria viajar no mesmo carro com ele. De 5 em 5 minutos o homem largava uma arma química, letal mesmo! Daquelas de parar o carro e sair correndo intoxicado com muitas náuseas. Por conta disto chegamos a Curitiba perto do meio dia, todos tontos. Hora de almoçar e ir dormir, pois no outro dia eu teria meu primeiro treino.

Chegando em Rio Negro me deparei com uma pista de alta velocidade. A curva de entrada da reta era para ser feita com o "pé no porão", e após a zebra existiam sacos de areia e em seguida arames farpados. Romântico né? Confesso que fiquei preocupado quando vi aquilo, mas eu tinha ido lá pra correr e não voltaria sem isto. Até porque precisava mais umas horas de ar puro, quer dizer, fora de qualquer carro que o Ruy estivesse dentro.

Comecei os treinos. Na época eu guiava muito e não media os riscos. Vai daqui, vai de lá, fui para a curva de entrada da reta e me atrapalhei com um kart mais lento que me fez com que eu saísse para a parte externa da pista. Lembram dos sacos de areia que eu falei, pois é, bati de frente com o kart e sai capotando feio, muito feio! A barra do volante ficou em forma de "V", imprestável. O pior é que para ele ter se tornado um "V" foram nescessárias duas forças básicas, a do saco de areia que tentou parar o kart de 120 km para 0 km, e a parte mais sensível do meu corpo (não estou me referindo ao meu olho) que fez a pressão para entortar a tal barra, no caso meu "pipipe". Pessoal, como doeu! Por alguns minutos esqueci das armas químicas do Ruy. Pensei que nunca teria filhos a partir daquele dia (mais tarde vi que provavelmente não os tenha, mas filhas já tenho duas - ufa!). Por sorte havia um médico por la que após parar o treino me tirou o macacão, a cueca e lá fiquei eu estirado no meio da pista com tudo de fora. "Tragam um pano para cobrir o Aloysio", gritou o meu pai para a turma da equipe. "Deixa comigo", disse o Ruy. Lá veio ele e colocou no meu piribelo simplesmente a toalhinha mais suja e cheia de gasolina e graxa que tínhamos no box. Uma cena lastimável e horrível: eu deitado, pelado com uma toalha suja de graxa em cima do meu, pobre e machucado e a estas alturas humilhado, pinto.

Me recuperei após o susto, e ainda naquela tarde estava de volta à pista. Na janta, em um restaurante de Rio Negro, encontramos o médico que fez um brinde por eu estar vivo. "Guri, eu vi a coisa feia pro teu lado". Porém, embora vivo, na hora do xixi as coisas complicavam mais.

Mas a vida continua. Da corrida eu venci 2 de 3 baterias e na última bati com o Beto Richa e perdi o campeonato para ele. É, o Beto Richa, hoje prefeito de Curitiba. "Pô" Beto, você poderia pelo menos me arrumar um cargo de confiança para trabalhar contigo aí, para compensar, né? (Estou brincando, claro, Beto).

Quem tiver a oportunidade peça ao Ruy para ele contar esta história. Na versão dele é muito mais engraçada. Se eu ouvir mais umas vinte vezes sento no chão pra rir em todas elas!

Aloysio Ludwig Neto

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