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Pegando fogo

O fato foi em 1986 em Cascavel, em meu primeiro ano de automobilismo com carros, ou melhor, corria com um Dodge, mas toda vez que conto parece que vivo-a novamente, tal foi o susto e, graças a meu bom Deus, somente um susto.

Era a 4ª etapa do campeonato paranaense daquele ano. Estava disputando a liderança com Ruy Chemin e Luiz Carlos Vendramin, todos até aquela etapa com uma vitória no ano, embora eu tivesse feito as 3 poles. Naquela etapa porém começava tudo errado pra mim. Em todos os treinos meu carro insistia em falhar. Problemas com os tuchos, dizia meu preparador na época e amigo até hoje Irineu Zini, o Chicão! Mas a verdade é que com todo esforço do mundo, tudo que consegui na classificação para aquela prova foi um modesto 7º lugar. Pior! Chemin e Vendramin estavam a minha frete, respectivamente em 2º e 3º lugar no grid. Só para complicar um pouco mais o clima na largada, o céu desceu em forma de água. Era muita água, mas como os velhos Dodges eram tidos por muitos como uns barcos, vamos lá!

Um problema no sinal de largada fez com que o sinal vermelho se apagasse por uma fração de segundos depois ascender o verde. Confusão! Não me lembro se larguei quando apagou um ou ascendeu o outro, mas a verdade é que na segunda curva (o curvão) estava em 3º. Bom, pensei! Fiquei tão seguro que parti pra cima do André Costi Filho, companheiro de equipe e então na 2ª colocação. Senti que estava mais rápido que ele, mas pensei: na chuva é melhor chegar na reta pra ultrapassar, e assim foi. Quando cheguei na reta, coloquei no vácuo do André que repentinamente ele tirou o pé e freiou, o que fez com eu que batesse em cheio na traseira de seu carro, ou melhor, seu Dojão. Foi quando meu carro parou, ainda em linha reta, sem ter rodado, exatamente ao lado do carro do André. Olhei pra ele e gesticulei algo como: desculpe, não ví sua lanterna de freio! Foi quando ouvi um terrível barulho por traz. Na hora percebi que alguém havia me batido. Fechei os olhos e quando abri havia fogo no assoalho de meu carro. Rápido como só os pilotos sabem ser nessas horas, bati o cinto e sai correndo do carro. Enquanto corria minha cabeça não queria acreditar no que via. Deveria ter uns quinze dojões naquele grid e após este fato 9 estavam destruidos , inclusive o meu. Me lembro também que quando saí de meu carro estava dentro de um circulo de chamas e o carro do André, ainda funcionado, com o André calmamente dentro dele dando a ré para sair do circulo de fogo e evitar aquela que seria a explosão de seu carro também.

O que houve? Estavamos nos perguntando! Lembra do sinal da largada no inicio desta história! Alguns pilotos que largaram mal, tiveram seus chefes de equipe pressionando o diretor de provas, Sr. Zanetti (jamais vou esquecer seu nome), e que ele acabou acatando a sugestão de nova largada. Só se esqueceu de avisar os postos de bandeirinhas acenarem com a bandeira vermelha, que indicaria corrida interrompida. Sem isto ele foi para o meio da pista com aquela chuva que São Pedro mandava, os dois primeiros, o Vendramin e o André o viram, de mim para trás ninguém viu mais nada. Aos leigos informo que em chuva o piloto não ve quase nada a sua frete quando está atrás de outro carro. Aos pilotos só lembro-os o quanto é ruim uma situação destas. Como dizia Piquet, é um vôo cego. O resultado, já contei visto de dentro como foi.

Nunca mais vi o Zanetti em Cascavel.

Um abraço a todos.

Em tempo: quando faço trocadilhos de carros com Dojões, é só uma brincadeira, pois estes carros nunca tiveram um respeito muito grande por parte da grande maioria de pilotos que conheci, o que é uma injustiça. Talvez eu melhor do que ninguém saiba o quanto é difícil controlá-los em corridas, o quanto aprendi com eles, e o quanto de carinho tenho pelas duas temporadas, todas no asfalto, que fiz com os magníficos V8 com aproximados 250 cv.

Aloysio Ludwig Neto

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