Setup
de um Fórmula 1
Reportagem:
Gerson Almeida
Renault do Brasil |
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A
regulagem de um monoposto oferece uma grande variedade de possibilidades.
Geralmente, as equipes têm pouco tempo para raciocinar na verdadeira
corrida contra o tempo que são os intervalos entre os treinos
preparatórios em um fim de semana de GP. "Por isso, o computador
e os testes de pista feitos previamente são uma ajuda preciosa",
resume Alan Permane, engenheiro de chassi do piloto Jarno Trulli,
da equipe Renault F1. "Antes mesmo de irmos para um autódromo,
já conhecemos os níveis de carga aerodinâmica requeridos e dispomos
das regulagens básicas necessárias". Mesmo
assim, segundo ele, apesar dos avanços proporcionados pelas simulações
computadorizadas, nada substitui os treinos realizados nos próprios
circuitos - é quando o ajuste é "afinado", ou seja, recebe uma
espécie de polimento final, ganhando aqueles décimos de segundo
que fazem a diferença entre um carro "lento" e um pole
position.
A
regulagem dos F-1 é uma arte que mescla conhecimento e experiência,
racionalidade e até uma certa dose de premonição, conforme confidencia
o engenheiro da Renault F1. "Ao mudar um parâmetro, pode-se
melhorar um aspecto do carro, como a tração. Mas há o risco também
de piorar outra característica importante - a durabilidade dos
pneus, por exemplo".

Asa
traseira
Sua regulagem é determinada pelo computador, cujo objetivo é
avaliar o nível de carga aerodinâmica obtido por este dispositivo.
Raramente a configuração estabelecida pela simulação computadorizada
é modificada pela equipe. Quando se trata de ajustar o equilíbrio
aerodinâmico do carro, damos prioridade à asa dianteira.
- Motor
Tudo começa no momento da concepção do carro: no caso do RS23,
seu maior ângulo da bancada de cilindros foi concebido para
favorecer o comportamento dinâmico do monoposto. O segundo passo
para o ajuste acontece na pista, onde o V10 é adaptado às condições
do local: usamos cornetas de admissão mais longas se fizer calor,
instalamos relações de marcha condizentes com o traçado, etc.
Enfim, é possível modificar o comportamento do motor em função
das características do carro e da pista. A curva de potência
na re-aceleração, o comportamento do V10 em diversas situações
como na frenagem e na troca de marchas são controlados por computador.
"A curva de potência pode determinar o comportamento do carro
em situações como re-aceleração e torná-lo nervoso ou dócil
para se pilotar", diz Denis Chevrier, responsável pela pesquisa
na equipe Renault F1 Team.
- Altura
em relação ao solo
Este parâmetro é ditado pela eficiência aerodinâmica, determinada
por simulações em computador. A equipe escolhe as curvas mais
importantes do circuito e regula a altura do chassi em função
delas. Geralmente, o carro é mais baixo na frente, de forma
a permitir à asa dianteira um melhor funcionamento. É impossível,
porém, abaixar demais o monoposto: o regulamento proíbe que
a prancha de madeira situada no fundo do veículo sofra desgaste
superior a 1 mm por raspar no asfalto durante a corrida. Quando
chove, a altura é aumentada para evitar aquaplanagem.
Cambagem
A inclinação das rodas em relação ao eixo vertical tem um papel
importante no comportamento do F-1. Muita cambagem na frente
permite melhorar a aderência nas mudanças rápidas de direção.
O uso excessivo deste parâmetro pode conduzir à chamada saída
de traseira (ou seja, as rodas da frente "grudam" mais do que
as de trás, e a traseira escorrega). Na traseira, o uso da cambagem
proporciona mais estabilidade em altas velocidades... mas seu
exagero pode penalizar a tração nas saídas de curva.
- Molas
e barras de torção
Na suspensão dianteira e na traseira, a rigidez é fundamental.
Ela permite limitar os movimentos do carro (rolagem e afundamento
da frente nas freadas ou da traseira nas re-acelerações). Ajuda
ainda a conservar a altura do chassi estável independentemente
das variações aerodinâmicas (ação do vento sobre o carro), cuja
carga pode ultrapassar 1,5 tonelada. Os elementos da suspensão
dianteira são geralmente regulados com mais rigidez que os da
traseira. Objetivo: privilegiar a tração nas saídas de curva
com um conjunto posterior mais flexível.
Asa
dianteira
É um ponto crítico. É este elemento que determina o equilíbrio
aerodinâmico do carro. Modificar sua inclinação não influi na
velocidade do F-1, mas pode transfigurar seu comportamento.
Aumentar o ângulo desta asa é uma maneira de combater as saídas
de frente. As regulagens básicas deste elemento são determinadas
por computador. A partir disso, o ajuste fino é feito de acordo
com as condições da pista.
- Lastro
Um carro pesa 600 kg, com o piloto a bordo. O lastro constitui
10% desta carga e tem como objetivo baixar o centro de gravidade
e distribuir melhor a massa - resultando em maior equilíbrio
do veículo em alta velocidade. Por isso, os engenheiros projetam
o carro para ter menos peso que o limite de 600 kg, de forma
a poderem se beneficiar do uso do lastro. Este peso extra instalado
no carro é dividido de duas maneiras: primeiro, é distribuído
na dianteira ou na traseira de forma a determinar o centro de
gravidade. A seguir, opta-se por colocá-lo mais acima ou abaixo
deste centro de gravidade em função do tipo de pista (sinuosa
ou de alta velocidade).
- Eletrônica
O controle de tração é capaz de variar sua sensibilidade de
uma curva à outra a fim de otimizar o comportamento do monoposto
em cada ponto do circuito. Na corrida, é um instrumento precioso.
- Frenagem
A distribuição da força frenante tem grande influência. De maneira
geral, a frente sempre tem vantagem nesta distribuição, recebendo
de 51% a 60% da força frenante total, em função das condições
da pista. O piloto pode fazer essa distribuição de dentro de
seu cockpit. Na corrida, aumentar a força frenante da dianteira
ajuda a economizar os pneus de trás - e, por conseqüência, a
preservar a tração.
- Amortecedores
Sua rigidez é geralmente determinada nos bancos de testes da
fábrica. Na pista, as condições do piso - mais áspero ou liso,
mais ou menos aderente, seco ou molhado - levam a equipe a optar
por amortecedores com dureza e curso variados, sempre visando
poupar os pneus e otimizar a aderência.
- Pressão
dos pneus
Mudanças tão pequenas quanto 0,1 bar na dianteira ou na traseira
permitem reduzir as derrapagens com as rodas de trás, poupando
pneus.
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